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MULHER: Não passamos de uma simples marionete fazendo tudo que nos mandam.
HOMEM: Em algum lugar, há alguém confortavelmente sentado em uma poltrona fofa, deliciando-se com a leitura de um livro.
MULHER: E nesse livro, nessas páginas, nessas linhas, estão as nossas vidas. (PAUSA) Alguém sabe antes de nós tudo o que vai acontecer.
HOMEM: E alguns desses exemplares estão perdidos … esquecidos em alguma prateleira pouco visitada de uma biblioteca ou livraria. (PAUSA) Isso é assustador.
MULHER: Eu diria decepcionante. Não temos vontade própria.
HOMEM: Se isso é verdade, por que não tomamos uma providência?
MULHER: Talvez isso esteja escrito em alguma parte do script. Homem e mulher tomam consciência de que tudo que os cercam é apenas a criação da mente de alguém … de um escritor … que os criou apenas para embalar as horas de um outro alguém.
HOMEM: Que qualquer coisa que façamos: dramática ou não, irônica ou não, engraçada ou não, não passaria apenas de uma pitada de emoção para que o leitor não durma no meio da leitura. (PAUSA) Não passamos de reles personagens dentro de uma peça de quinta categoria.
MULHER: O que será que vem a seguir?
HOMEM: Um louco vai entrar pela nossa porta, dizendo que um assalto e não vamos alterar o nosso estado emocional.
MULHER: Isso seria interessante … quebrar a rotina da nossa monótona vida.
(SOM DE PORTA SENDO ARROMBADA)
Texto lido na Livraria Martins Fontes em 27 de fevereiro de 2015.
Imagem: Quadro de 1956: Bond of Union – de: Maurits Cornelis Escher (1898-1972)