O abajur ilumina o quarto, caixas espalhadas. João está sentado à beira
da cama, de costas. A janela aberta, a cidade vive. Chico entra.
–
Chico senta-se na mesma cama, ao lado oposto.
–
Chico – Já?!
João – Deixei seus discos no armário da sala.
– –
Chico – Está tarde. Pode dormir aqui, se quiser…
João – Já chamei um táxi.
Chico (sussurrando) –… eu quero.
João – Ele já deve estar me esperando.
Chico – O táxi?
João – Não.
– – –
João se levanta, retira do bolso as chaves, faz menção de entregar a
Chico que permanece estático.
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João as coloca sobre o criado-mudo. Chico caminha até a janela.
Chico – É uma noite muito bonita pra se ir… A lua está sorrindo. Como naquela
noite na praia, lembra?
João – Lembro.
– –
João – Amanhã eu passo pra pegar as caixas.
João sai levando consigo uma mala. Chico fecha a janela.
Chico – É uma noite muito bonita pra chorar.
Chico deita-se, apaga o abajur e adormece.
Texto escrito no Workshop de Compartilhamento “Amor e Violência – Funarte” – Outubro/2016