Cena1
(Uma moça entra na sala de espera da emergência com a ajuda de uma enfermeira)
Ela: Aiii, cuidado cacete, já disse que não consigo apoiar o pé! Ai, cuidado! Não posso mexer o braço! Desculpa…Dói muito e eu tive um dia horrível.
Enfermeira: Estou acostumada. Pelo menos sua boca está funcionando bem. Não quebrou. Podia ter sido pior… (ajuda sentar, lhe dá a bolsa e a papelada da burocracia médica). Agora é só esperar o médico chamar pelo nome. (sai)
(A moça deixa a papelada cair no chão. Tenta pegar os papeis e derruba a bolsa. Tenta pegar a bolsa. Um rapaz que está na sala de espera a observa)
Ele: Precisa de ajuda?
Ela: Não! Obrigada. (Tenta pegar a bolsa uma vez mais, porém se atrapalha e cai no chão. Tenta se levantar, não consegue. Urra de dor) Ahhhh, merda de braço, merda de pé.
Ele: Eu te …
Ela: Não! Sou uma mulher independente!
Ele: Ainda bem que eu não sou.
Ela: Tá na cara que não.
Ele: É ? É tão evidente assim que não sou independente!
Ela: Não. Que não é mulher.
(Ele se levanta. Também tem uma perna quebrada e um braço.)
Ele: Eu também me quebrei todo. Não posso me apoiar. Mas se eu me virar assim. Ai minha mão. Agora… (Tenta ajudá-la mas também cai no chão.) Aiiii.
Ela: Eu disse que não precisava. Nem adianta me culpar!
Ele: Eu não disse nada!
Ela: Reclamou, disse ai! E eu não tenho nada que ver com isso!
Ele: Eu só queria ajudar…
Ela: Conheço bem vocês. Começa assim, com uma ajuda aqui, uma ajuda ali e depois o bote.
Ele: Nossa! Fica no chão então. (Ele tenta se levantar e não consegue). Vou precisar de ajuda. (Se olham).
Ela: Tá certo… Enfermeira… Enfermeira.
(Enfermeira entra. Ajuda sem tocá-los. Apenas dando instruções.)
Enfermeira: Pega a bolsa com o braço bom e o levanta . Você gira e se apoia na perna boa dele. Isso assim… Agora você apoia a perna assim. Isso.
(Se levantam um apoiando no outro. A Enfermeira sai)
Ele: Enfim sentados. Obrigada pelo apoio.
Ela: Desculpa…Eu tive um dia horrível e… (formal) Nem me apresentei, me chamo EU.
Ele: Também me chamo EU!
Ela: Bom, acho que temos algo em comum.
Texto escrito por Carolina Martins, durante a oficina “Preliminares do Texto – Análise e Prática” – Junho de 2017
Imagem: Karambolage