Começa assim, com uma vontade de olhar e adivinhar o seu pensamento. Começa com silêncio. Não tem palavra que caiba. Tem gesto. Um olhar com medo e desejo, uma tentativa falha de fingir que não estou olhando, que não estou a fim, que nem estou ali.
Perco!
Derrotado, passo a tentar manter o equilíbrio, o foco, a vida. Mas sou fraco e o tédio me consome lá fora.
Me rendo!
Porque aqui dentro é muito melhor. Me rendo, vou ao encontro do meu desejo, me agacho e sinto primeiro o cheiro. Já de olhos fechados, abro a boca e deixo entrar, não tive nem tempo de olhar muito, daqui de onde estou já nem consigo ver muita coisa, uma pena porque sou vouyer, adoro olhar!
Ver me instiga mais do que sentir.
O tempo passa rápido e eu sei que o fim já está próximo, sinto minha garganta molhar, odeio esse gosto amargo, mas aguento, pois esse é o meu papel. Me sinto útil, me sinto satisfeito, me sinto vivo. A vida é uma aventura e eu sou um barquinho na enchente.
Exercício de escrita feito no Workshop de Compartilhamento “Amor e Violência” do Laboratório da Cena Funarte – Malditos Dramaturgos. Flaviane Gonçalves. Outubro/2016